REFLEXÕES DE UM POLICIAL

“Cogitationis poenam nemo patitur”

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A morte de policiais militares no Pará

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Atualmente, encontro – me ocupado realizando algumas pesquisas de campo e na elaboração do relatório da dita pesquisa, o que me deixou um pouco afastado das atividades no blog (estou postando apenas algumas notícias do nosso cotidiano policial), aproveitando o pouco tempo depois das refeições para colocar em dia as leituras de periódicos e acompanhar a blogosfera policial.

Todavia, uma matéria veiculada nos jornais paraenses (ontem e hoje) merece uma atenção especial. Foi divulgado pela Polícia Militar o número de policiais militares assassinados no período compreendido entre os anos de 2007 a 2009, o que resultou no total de 42 policiais. O fato mais importante é que aproximadamente 80% dos policiais mortos estavam de folga (34).

De imediato, os “especialistas” vêm apontando inúmeros fatores: “Bico”, emboscada, assalto e outras violências urbanas, moradia dos policiais mortos em locais de grande atuação criminosa, etc…

Outro fato mostrado é que a maioria dos homicídios ocorreu no interior do Estado, onde a estrutura e funcionamento da atividade policial é diferente da encontrada na Capital. Gostamos (nós, policiais militares que atuamos no interior) de dizer que existem duas policias – uma na região metropolitana e outra no interior do Estado. (falarei sobre isso em outra ocasião)

Sou um acadêmico, por isso não irei opinar sobre os resultados dessa estatística divulgada pela PM, pois são apenas dados quantitativos. Porém, deixo minha opinião sobre o que fazer com essa informação: (1) Realizar um estudo técnico-científico para analisar a situação – o problema a ser solucionado está explícito¹. (2) De posse desse resultado elaborar uma proposta para ser apresentada ao Governo do Estado². (3) Divulgar esses resultados e as possíveis ações solucionadoras para o conhecimento dos policiais (principais interessados), da mídia e da comunidade, pois podem servir como fator de pressão. (4) Cobrar dos políticos comprometidos com a causa da segurança pública (se houver algum) e com o bem-estar dos policiais (essa é difícil) que tomem um posicionamento mais enérgico com relação à tomada de decisão do Governo sobre esse assunto com respaldo no estudo técnico previamente elaborado³.

Essa é a minha contribuição para buscar uma solução palpável para esse verdadeiro massacre que está sendo perpetuado contra os operadores de segurança pública. Deixo, é claro, minha solidariedade com as famílias daqueles que foram mortos nessa guerra urbana entre a criminalidade e o Estado, onde a população brasileira é vítima desse fogo cruzado e que não tem data e nem previsão para um cessar fogo.

1 – Eu sei, meus amigos, que estou sonhando, porém o sonho é o alimento da alma.
2 – Quando aparecer um Comandante que brigue pela base da nossa instituição (continuo sonhando).
3 – Acabei de perceber que ingerir algum cogumelo alucinógeno no almoço e estou delirando.

Escândalo no Instituto de Criminalística do Pará II

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Nessa segunda-feira (16/02), o Conselho Estadual de Segurança Pública (Consep) que é constituído pela Secretária Executiva de Segurança Pública, PM, PC, CBM, Centro de Perícia Técnicas, Departamento Estadual de Trânsito, Superintendência do Sistema Penal, OAB, Assembléia Legislativa do Estado, Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca/Emaús), Centro de Defesa e Estudo do Negro no Pará (Cedenpa), Sociedade Paraense dos Direitos Humanos (SPDDH) divulgou nota de repúdio contra as declarações do Ex-Diretor do Centro de Perícias Científicas, Miguel Wanzeller Rodrigues.

Em tal nota, o CONSEP assevera que as acusações feitas por Miguel Wanzeller são injustas e caluniosas, que nunca tais fatos foram discutidos em reuniões do Conselho (Wanzeller era conselheiro) e que sequer era participativo, demonstrando que não estava à altura do cargo de Diretor do CPC e nem a altura do cargo de conselheiro.

As denúncias de Wanzeller contra a cúpula do Sistema de Segurança Pública foram veiculadas nos jornais paraenses após a sua exoneração do cargo de Diretor do CPC, onde alegava que estaria sendo vítima de perseguição políticas por não se submeter à ingerência de outros órgãos do Sistema de Segurança Pública, quanto à transparência e legalidade de seu trabalho. Acredito que essas denúncias oriundas de um funcionário do alto escalão da segurança pública devem ser apuradas com rigor, pois Wanzeller permaneceu no comando do CPC durante 02 anos e agora o CONSEP vem afirmar que o mesmo não tinha condições de ser nomeado para tal cargo.

Algo está errado, pois se o CONSEP estiver com a razão, poderemos afirmar que a nossa governadora definitivamente não sabe escolher seus assessores e mandatários dos cargos de confiança, ou caso Wanzeller esteja com a razão teremos elementos para indicar a existência de uma verdadeira quadrilha que tem como objetivo atingir os direitos fundamentais do cidadão paraense (leia-se direito a vida e liberdade) e acabar de vez com o pouco de credibilidade que as instituições de segurança possuem.

Ah! se a moda pega.

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espancamento2

Sem acreditar na Justiça ou motivados pelo desejo de ter uma situação resolvida, populares realizam sessões diárias de espancamentos, principalmente na Região Metropolitana de Belém. Os casos são crescentes e todos os dias os hospitais públicos recebem uma grande e preocupante quantidade de vítimas da “justiça com as próprias mãos” realizadas pela população.

Ontem, um adolescente de 16 anos foi espancado, na WE- 32, na Cidade Nova 4. Ele foi perseguido por populares depois de assaltar um professor e roubar seu notebook.

Segundo informações, o professor foi levar seu filho à escola e ao estacionar o carro foi abordado pelo bandido. Armado com um revólver e em companhia de um comparsa, identificado pelo vulgo “Pingo”, Luís ameaçou a vítima e conseguiu roubá-la.

Na tentativa de ter seu aparelho de volta, o senhor correu atrás dos bandidos e sua reação fez com que os ladrões atirassem em sua direção. Por sorte, ninguém ficou ferido. Na hora do assalto, várias pessoas caminhavam pela rua e muitas crianças estavam entrando na escola. A cena foi de pânico. O medo se espalhou e causou revolta em algumas pessoas que passaram a perseguir os bandidos depois de presenciarem a falha no revólver.

“Pingo” conseguiu fugir e o adolescente foi alcançado. Teve início, assim, uma sessão de espancamento, com direito a chutes e socos. Uma roda se formou ao redor do bandido e populares instigavam aos mais corajosos que batessem no acusado. Minutos depois, policiais chegaram ao local em uma viatura da polícia e prenderam o acusado. Ele foi levado ao Hospital Metropolitano, onde foi atendido. Segundo informações da assessoria de Imprensa do hospital, o estado de saúde do acusado é estável. Ele teve uma fratura na mandíbula e permanece internado em observação.

>>> Espancado na Cidade Nova sobrevive por “milagre”

Outra vítima de espancamento foi Moisés Souza Martins. Ele é acusado de tentar assaltar um mototaxista na noite de terça-feira, o que ocasionou em uma sessão de espancamento de mais de uma hora. Segundo informações de colegas de trabalho da vítima, o assaltante chegou em companhia de um comparsa e pediu ao mototaxista para realizar uma corrida.

Ao sair do ponto, apontou um revólver para o condutor e informou que se tratava de um assalto. Colegas da vítima disseram ter desconfiado da ação dos bandidos e foram em direção ao amigo.

Para azar do bandido, a arma falhou e ele foi cercado por amigos da vítima. Moisés foi espancado por quase uma hora. Motoqueiros, revoltados com a situação, passaram por cima dele com suas motos. Ele foi agredido ainda com chutes, pauladas e pedradas.

Quando a polícia chegou ao local encontrou o acusado bastante ferido e sangrando muito. Ele foi tirado da ira popular por policiais militares e levado ao Hospital Metropolitano.

No HM constatou-se que o acusado não apresentava nenhuma fratura. Com apenas algumas escoriações e luxações pelo corpo, ele recebeu alta no dia seguinte.

>>> Após roubo de moto, rapaz é alcançado por populares

Alan Rodrigues Costa, de 18 anos, foi mais uma vítima da impiedosa revolta de populares contra a violência dos bandidos. Ele e outros três comparsas roubaram a moto de um homem na Cidade Nova VI. Mas foram perseguidos e Alan foi capturado pelos populares. Ele foi violentamente espancado e acabou sendo salvo das mãos da população pela polícia.

O sargento Chucre, da 7ª Zpol, contou que o crime ocorreu por volta das 23h40, na SN-3, no conjunto Cidade Nova VI, em Ananindeua. O veículo roubado por Alan e seus comparsas foi uma moto Honda Biz, de cor preta, subtraída de um morador da área.

Alguns minutos depois de ocorrer o roubo, a moto foi localizada próximo ao final da linha do ônibus Guajará.

Do grupo de ladrões, apenas Alan foi detido por populares. Os outros participantes do crime conseguiram escapar. Depois de ser espancado pela população, o criminoso detido foi socorrido e levado para a Seccional da Cidade Nova.  (Diário do Pará)

Enquanto o governo e o sistema de segurança pública continuam fazendo propaganda de suas ações, a criminalidade não para de crescer na nossa capital. O cidadão totalmente descrente dos poderes estatais resolveu combater os criminosos com as próprias mãos. A polícia não está mais socorrendo o cidadão, agora está socorrendo os bandidos da fúria popular.

briga1Gostaria que essa fúria fosse transportada para outros crimes como a corrupção e a pedofilia. Aqui no Pará, ia ter deputado, prefeito, irmão de governadora e altas autoridades caindo na “péia”.



A infância roubada

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Com o abuso sexual infantil, a infância e a adolescência se perdem. Pode haver maior crime? O que fazer com alguém que teve a infância roubada? Como devolver-lhe a confiança se a pessoa mais importante de sua vida a traiu? Essas são perguntas difíceis de responder, pois não podemos chegar nem perto de imaginar como se sente uma criança que foi violada por seu cuidador.


Falar de violência no Brasil é sempre penoso, pois dificilmente não conhecemos uma família que não tenha perdido um ente querido devido a intolerância vivenciada no dia-a-dia ou tal fato pode ter ocorrido no nosso próprio convívio familiar. Mas falar de violência sexual é muito mais penoso e normalmente revoltante.

Contudo é necessário falar sobre esse assunto, pois a realidade mais uma vez bate na nossa porta e nos desperta de nossa letargia e distanciamento de uma questão tão delicada e importante. Fico até hoje, chocado com os depoimentos colhidos durante a CPMI da Pedofilia no Brasil, apesar de ter lido e assistindo inúmeras vezes.

As palavras das vítimas são como punhal em nossos corações logo vem à imagem de nossos filhos, sobrinhos e demais entes queridos, cuja nossa maior missão é conduzir-los na estrada da vida, tentando evitar ou minimizar as quedas que acontecerão, tudo com o intuito de que se transforme em cidadãos e cidadãs dignas e responsáveis.

Entretanto, no meio dessa jornada, pode haver um “doente” que num só ato pode destruir um futuro de uma criança. O abuso sexual deixa marcas para toda vida. Além das seqüelas físicas, existe a depressão, o medo, a culpa, a incapacidade de confiar determinada pela violência psicológica. Guerra (2001) afirma que o menor violentado na sua sexualidade perde a oportunidade de ser sujeito do seu próprio destino, da sua própria história sonhada, projetada ou construída.

Muitos nem sabe o que é essa violência sexual tão explorada pela mídia no dia-a-dia, podemos afirmar que se trata de qualquer situação de jogo, ato ou relação, heterossexual ou homossexual, envolvendo uma pessoa mais velha e uma criança ou adolescente, podendo se expressar como: abuso sexual intrafamiliar e extrafamiliar; ou exploração sexual comercial (prostituição, pornografia, turismo sexual e tráfico).

A violência sexual contra as crianças e adolescentes é classificada em dois tipos: O Abuso Sexual e Exploração Sexual. O Abuso Sexual é considerado todo o ato ou jogo sexual, relação hetero ou homossexual cujo agressor está em estágio de desenvolvimento psicossexual mais adiantado que a criança ou a adolescente. Tem por intenção estimulá-la sexualmente ou utilizá-la para obter satisfação sexual. Esse fenômeno violento pode variar desde atos em que se produz contato sexual (exibicionismo, voyeurismo, produção de fotos), até de ações que incluem contatos sexuais sem ou com penetração.

Já a Exploração sexual – apresenta semelhança ao abu¬so, com o diferencial de que a utilização sexual da criança ou adolescente visa o lucro, sendo exemplificado pela prostituição, pornografia e tráfico para outras cidades, estados ou países para fins sexuais. Lembramos que criança ou adolescente não se prostituem. São explorados sexualmente.

O abuso sexual é um dos mais difíceis de serem apurados, em face da denominada “Síndrome do Segredo”, isto é, é o “acordo” entre abusador e abusado de que aquilo que ocorre entre eles deve permanecer oculto. Esse acordo é mantido através de benefícios para a criança ou com ameaças fí¬sicas e/ou psicológicas à criança e à família. Para dificultar ainda mais, o abusador usa a criança como uma “droga”, da qual é dependente viciado, a isso os autores costumam chamar de “Síndrome da Adição” (TRINDADE; BREIER, 2007).

Tais atos odiosos são considerados crimes previstos na legislação penal pátria, tendo como instrumento de auxílio imprescindível o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que nos seu artigo 13 determina que em casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos devem ser obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da localidade de moradia da vitima. A notificação cabe a qualquer cidadão que é testemunha ou tome conhecimento e tenha provas de violação dos direitos de crianças e adolescentes. Ela pode ser feita até mesmo de forma anônima.

Já o artigo 245 do ECA define como infração administrativa a não comunicação de tais eventos pelos mé¬dicos, professores ou responsáveis por estabelecimentos de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, à autoridade competente, sujeita à multa de três a vinte salários de referência. Essas denúncias também podem ser feitas de forma anônima pelo número 100.

O que realmente vem causando preocupação com respeito a esse assunto é que a nossa CPI da pedofilia, desenvolvida pela Assembléia Legislativa do Pará, começou a desbaratar uma grande rede de pedófilos (leiam-se monstros) cujo seu entreamento vai bater na porta do poder legislativo e executivo estadual. Tal fato em si é preocupante e com seu desdobramento começa a ter um caráter e amplitude hedionda, pois aqueles e aquelas que foram eleitos para proteger nossas crianças, ou são acusados de pedofilia ou convivem dia-a-dia com um.

A revista veja dessa semana, não poupa nosso Estado e com toda a razão, tanto pelo que foi exposto pela mídia quanto pelo que vem sendo descoberto na CPI. Só tenho duas coisas a dizer sobre isso: Primeira, depois os representantes das nossas instituições não poderão dizer que as crianças têm problemas mentais ou que a culpa foi delas (essa desculpa já foi usada, pois dependendo da situação pode ser aceita, mesmo que demore um ano). Segundo, eu é que não voto mais nesses acusados e naqueles que porventura venha a protegê-los.

Que a justiça seja feita.

A sociedade não pode aceitar tais ações, isso é um absurdo!!!!!